5 de maio de 2008

fotografia de Z
umaporrolo.blogspot.com



Tenho 40 janelas
na parede do meu quarto,
sem vidros, nem bambinelas,
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do sol,
por outra a luz do mar,
por outra entra a luz das estrelas,
que andam no céu a rolar.

Por esta entra a via láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.

Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela frente a beleza
que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança,
quatro arestas,
quatro vértices,
quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho
que as vigias são redondas
e o sonho afaga e embala,
à semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo e a humildade,
e o silêncio e a surpresa
e o amor dos homens e o tédio
e o medo,
e a melancolia,
e essa fome sem remédio
que se chama poesia.

E a inocência e a bondade,
e a dor própria e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia
e a viuvez
e a piedade.

E o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo.

Todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar,
com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.

António Gedeão
Outubro 2007

2 comentários:

Z disse...

:)))))

Anónimo disse...

Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada,obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada,Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada,Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada,Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada
pela fotografia,
pelo texto do Gedeão que é tão maravilhoso,
por me tirares o bolor do mail,
por gostares tanto de mim assim, por eu gostar tanto de ti assim.
Bem hajas comadre