12 de agosto de 2013

"EL ABRAZO" de Pablo Picasso


Aliás, eu cresci com ela, vivi com ela a minha infância e adolescência, enquanto ela vivia, sob o meu olhar, o seu único e maravilhoso romance de amor com o meu avô Tomaz. Como já não se vivem mais, como já ninguém sabe mais viver.
Se hoje, a alguma mulher- ou homem vá- fosse proposto um amor assim, feito de de um amontoado de dias sempre iguais, de hábitos, rituais, incompreeensíveis manias estabelecidas, feito de tantos e tantos silêncios, de olhares mudos, mãos que às vezes tocavam disfarçadamente sobre a mesa quando mais ninguém estava a ver, feito de tantos e tantos trabalhos esforçados, canseiras, cansaços, desilusões e embaraços, quem, que mulher, que homem, chamaria a isso amor?
Quem de nós, hoje, quereria viver um romance assim, fechado numa aldeia fechada para o mundo, entre ovelhas, porcos, galinhas, Invernos gélidos e Verões de um calor impiedoso, toda uma vida sem tréguas, nem disfarces, nem sequer um aparelho de televisão que trouxesse a essa vida uma dose mínima de ilusão e de mentira? Quem de nós conseguiria amar sem ilusão, amar sem Televisão?


Miguel Sousa Tavares
in "Madrugada Suja"
Julho 20013

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