19 de abril de 2015

Sem título, by Fotolia


- A senhora sente saudades de Portugal?
- Saudades? Não.
- Não?!
- Onde já se viu? ! Saudades não tens a mínima noção do que estás a dizer. (...)
(...) - Saudade, António, é palavra singular! Não há outra que a substitua. Nenhuma sequer parecida. 
Aprende.
(...)- Ainda mais a saudade a que te referes, que me é imensa, descabida.
(..) - Ainda és muito moço, não abriste mão de nada, a tua vidinha está intacta. Um dia, mais cedo ou mais tarde, hás-de saber que saudades, no plural, são lembranças, cumprimentos que se mandam. É muito pouco, António, pra exprimir este sentimento que eu e teus pais trazemos na alma com relação a Portugal e o que lá deixámos. Saudade, sim! No singular, é a palavra que condiz. Podes até achar que é detalhe.. Mas é detalhe precioso a que só  nossa língua se dá ao luxo de chegar.É bom que guardes isto contigo porque, quando vier a hora, terás a medida exacta para avaliar a tua perda, por maior que seja. Terás também o perfume para atenuá-la. A primeira vez que, sozinho e incontido, disseres "Que saudade!" começarás a entender o que sentimos, teus pais e eu.


Francisco Azevedo
in "O Arroz de Palma"
Abril 2015

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