24 de dezembro de 2009

"Mosaico" de Georges Braque

O PAI NATAL EXISTE

As crianças crescem. É bom. Alguns sonhos desaparecem. Há ilusões que arrefecem. Que pena!

Porque será assim tão difícil guardar uma criança dentro de nós? Sei lá! Com certeza porque as pessoas crescidas devem ter um bocadinho de vergonha. Talvez por isso vivam tão tristes. O facto é que tudo à nossa volta tende a matar a ingenuidade e essa “coisa” feita de sonho e de lembranças inventadas.

É pena que tantas vezes os crescidos acabem por obrigar as crianças a crescerem cada vez mais depressa.

Adultos antes do tempo que não podem brincar porque isso não parece bem. Que pensam que ser grande é usar fato e gravata e pensar e agir como a maioria sorumbática que arrasta por aí, penosamente, a sua existência.

Imaginar tornou-se coisa de loucos. O importante parece ser a total normalização da sociedade e dos comportamentos. Se o mundo assim continuar, passará a ser um sítio chato para viver. Acho eu. É estranho. Quando pergunto às crianças com quem vou conversando todos os dias o que querem ser quando forem grandes, nunca nenhuma me dá a resposta que a seguir lhes dou eu: eu quando for grande quero ser criança! Independentemente do que os crescidos pensam e das enormes responsabilidades que vou tendo há tantos, tantos anos, estou seguro de que no dia em perder este sonho é porque já parti. Acham patético? Que importa! O que lhes posso garantir é que “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos”. É por isso que o Pai Natal existe! Chamam-lhe Pai Natal porque o seu verdadeiro nome é muito, muito comprido. O nome completo dele é o nome de todos os Meninos do Mundo! Como demorava muitos anos a dizer e como ele já está um bocadinho velhinho, decidiram, numa reunião muito importante, chamar-lhe só Pai Natal. Também existe o Menino Jesus! Só não sei se é Menino ou Menina. Mas não faz mal. Existe!

Como ainda é criança e tem que estudar e brincar muito não tem tempo para outras coisas e pede ao Pai Natal para ser ele a trazer as prendas. Mas são tantas que até o Pai Natal já não pode com elas todas. Então são os Pais das crianças que o ajudam a entregá-las.

Há dias estive a conversar com a Alice, aquela do País das Maravilhas e com um amigo dela, o Peter pen. O Peter Pan é aquele Menino que nunca cresce e que vive no País do Nunca que é como quem diz no Mundo que todos nós gostávamos que fosse tão bom, que não houvesse crianças com fome e que até ficavam contentes se como prenda lhes dessem só um bocadinho de pão, mesmo que já fosse um bocadinho duro e sem compota. E ainda sem aquela doença das pessoas crescidas que têm a mania de andarem sempre em guerra. Também conversei com uma coruja que está sempre a olhar e nunca fala e com um sapo que está sempre a falar e não olha. Falei com um urso pequenino que gosta muito de brincar, mas que qualquer dia vai ficar doente da barriga porque quer andar sempre a comer doces. Até já tem os dentes um bocadinho verdes! Também falei com uma sereia tão linda (gosto tanto dela!) que quando fala só se ouve música! E cheira tão bem que até parece que lhes estão sempre a nascer flores das mãos. Falei com as estrelas e com um cometa. Falei com as fadas e os duendes. Falei com todas as coisas do mundo. Todos me disseram que o Pai Natal existe e o Menino Jesus também!

Octávio Cunha
in "Adoráveis Chantagistas"
Outubro 2009

3 comentários:

Anónimo disse...

Só tu é que (re)lembras quem aqui chega que o sonho ainda existe!... Bem bom!
Chau

Anónimo disse...

Se, como penso, cada postal da Rapariga dos Postais é único, sei agora que já tenho uma obra "original" - não, o Turner não é original, é um produto sofisticado das novas tecnologias - e vou guardá-lo onde possa sempre ser (bem) visto.
Espero que, além da "Tranquilidade", 2010 seja também um ano de Entendimento.
Um beijo e um Bom Ano Novo de 2010!
A.

Anónimo disse...

Agora, sim, tenho o original, e como em todas as obras de arte, é muitíssimo mais belo do que as cópias (é por isso que não vou ver o Turner original, que mora a umas centenas de metros de mim). Fica exposto. Obrigado.
Um beijo,
A.