25 de março de 2017

"On the Edge of the Sand" de Sam Toft


(...)Creio que o guarda-chuva é uma excelente invenção. Repare : não é um objecto que acaba com a chuva, é sim algo que evita a chuva individualmente. Não gosto dela, mas não acabo com ela, não a destruo. O guarda-chuva é uma filosofia que usamos no quotidiano.
A água continua a cair nos campos, apenas evita que se estrague o penteado. É um objecto bondoso, que não magoa ninguém.


Afonso Cruz
in "Flores"
Março 2017


19 de março de 2017

"Maternidade" de José de Almada Negreiros


As mães são as fieis depositárias da nossa infância, dos primeiros anos. As memórias mais formadoras, não são tuas, são dela.
E quando a tua mãe morrer, levará consigo a tua infância, perderás os primeiros anos da tua vida. Por isso trata-a bem.

Afonso Cruz
in "Flores"
Janeiro 2015

4 de março de 2017

4 de Março

Kimt

a palavra adiada

Adiamo-la, evitamo-la, preterimo-la, engolimo-la, atrofiamo-la, escondemo-la.
Ela – a palavra esperada, a palavra exigida.
Talvez porque a nossa língua não teve sorte com ela – a sorte foi para o verbo no infinito: amar, sabe a mar e a sal, enquanto que para a pronunciarmos ela parece que se agarra ´garganta e não quer sair ( o “u” tem destas coisas ).
Não é suficientemente bela, suficientemente sonora, mas é a que temos, é a nossa.
É foleira, sôa mal, não fica bem dizê-la e muito menos afirmá-la.

Para a dizermos exigimos o sítio e a altura certa, como se não fossemos nós que fazemos o lugar e o tempo. E muitas vezes mesmo no lugar e no tempo, não a ousamos proferir e optamos por um “adoro-te” um beijo ou um “gosto muito de ti “.

Não gostamos de arriscar e perante a possibilidade de a proferir com a pessoa errada, optamos por a silenciar, como se no espaço da palavra, só coubesse uma pessoa e não fossem admitidos enganos.

O tempo entretanto encarrega-se de a dissolver na memória.
Apressem-se pois, príncipes e princesas encantadas, pois quanto mais tardarem a aparecer nas nossas vidas, menos possibilidades terão em a ouvir da nossa boca.

É a palavra mais desejada, e ao nascermos adquirimos automaticamente o direito de a dizer e ouvir ao longo da vida

Dizêmo-la com os olhos, o gesto, o corpo, o riso as lágrimas e a alma, mas é preciso aprender a pronunciá-la
d        e        m      o      r        a        d      a    m      e      n      t     e

amo-te  amo-te  amo-te  amo-te

                



No dia do meu aniversário, um texto meu.