Kimt
a palavra adiada
Adiamo-la, evitamo-la, preterimo-la, engolimo-la,
atrofiamo-la, escondemo-la.
Ela – a palavra esperada, a palavra exigida.
Talvez porque a nossa língua não teve sorte com
ela – a sorte foi para o verbo no infinito: amar, sabe a mar e a sal, enquanto
que para a pronunciarmos ela parece que se agarra ´garganta e não quer sair ( o
“u” tem destas coisas ).
Não
é suficientemente bela, suficientemente sonora, mas é a que temos, é a nossa.
É
foleira, sôa mal, não fica bem dizê-la e muito menos afirmá-la.
Para
a dizermos exigimos o sítio e a altura certa, como se não fossemos nós que
fazemos o lugar e o tempo. E muitas vezes mesmo no lugar e no tempo, não a
ousamos proferir e optamos por um “adoro-te” um beijo ou um “gosto muito de ti
“.
Não
gostamos de arriscar e perante a possibilidade de a proferir com a pessoa
errada, optamos por a silenciar, como se no espaço da palavra, só coubesse uma
pessoa e não fossem admitidos enganos.
O
tempo entretanto encarrega-se de a dissolver na memória.
Apressem-se
pois, príncipes e princesas encantadas, pois quanto mais tardarem a aparecer
nas nossas vidas, menos possibilidades terão em a ouvir da nossa boca.
É
a palavra mais desejada, e ao nascermos adquirimos automaticamente o direito de
a dizer e ouvir ao longo da vida
Dizêmo-la
com os olhos, o gesto, o corpo, o riso as lágrimas e a alma, mas é preciso
aprender a pronunciá-la
d e
m o r
a d a
m e n
t e
amo-te amo-te
amo-te amo-te
No dia do meu aniversário, um texto meu.