4 de março de 2017

4 de Março

Kimt

a palavra adiada

Adiamo-la, evitamo-la, preterimo-la, engolimo-la, atrofiamo-la, escondemo-la.
Ela – a palavra esperada, a palavra exigida.
Talvez porque a nossa língua não teve sorte com ela – a sorte foi para o verbo no infinito: amar, sabe a mar e a sal, enquanto que para a pronunciarmos ela parece que se agarra ´garganta e não quer sair ( o “u” tem destas coisas ).
Não é suficientemente bela, suficientemente sonora, mas é a que temos, é a nossa.
É foleira, sôa mal, não fica bem dizê-la e muito menos afirmá-la.

Para a dizermos exigimos o sítio e a altura certa, como se não fossemos nós que fazemos o lugar e o tempo. E muitas vezes mesmo no lugar e no tempo, não a ousamos proferir e optamos por um “adoro-te” um beijo ou um “gosto muito de ti “.

Não gostamos de arriscar e perante a possibilidade de a proferir com a pessoa errada, optamos por a silenciar, como se no espaço da palavra, só coubesse uma pessoa e não fossem admitidos enganos.

O tempo entretanto encarrega-se de a dissolver na memória.
Apressem-se pois, príncipes e princesas encantadas, pois quanto mais tardarem a aparecer nas nossas vidas, menos possibilidades terão em a ouvir da nossa boca.

É a palavra mais desejada, e ao nascermos adquirimos automaticamente o direito de a dizer e ouvir ao longo da vida

Dizêmo-la com os olhos, o gesto, o corpo, o riso as lágrimas e a alma, mas é preciso aprender a pronunciá-la
d        e        m      o      r        a        d      a    m      e      n      t     e

amo-te  amo-te  amo-te  amo-te

                



No dia do meu aniversário, um texto meu.                                            
                                                                                      
                                                                                                                                                                          

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